Multiletramentos nos Anos Iniciais: como transformar gêneros, imagens e vídeos em aliados na aprendizagem?

28 de agosto de 2025


Imagine um aluno que entende um poema porque ouviu sua melodia, decifra um gráfico porque viu sua lógica em cores e reconhece um meme porque percebeu a ironia por trás da imagem. Essa cena pode parecer fragmentada, mas revela exatamente o que o mundo exige hoje: ler e produzir sentido em múltiplas linguagens. É aí que entram os multiletramentos na escola.

Nos Anos Iniciais, essa abordagem ganha ainda mais relevância porque é nesse período que ocorrem a alfabetização e o letramento, momentos decisivos para que a criança aprenda a decodificar palavras e construir significados a partir de diferentes formas de linguagem. Introduzir os multiletramentos nessa etapa significa ampliar o repertório expressivo desde o início da vida escolar, garantindo que leitura e escrita caminhem junto com a compreensão de imagens, sons, vídeos e outros formatos que fazem parte da realidade cotidiana.

O que são multiletramentos e por que importam?

O conceito de multiletramentos foi apresentado em 1996 pelo New London Group, um coletivo internacional de educadores que buscava responder a duas transformações visíveis nas práticas de linguagem: a crescente diversidade cultural nas sociedades e a multiplicidade de formatos em que circulavam os textos — impressos, orais, visuais, digitais, híbridos. A proposta era refletir sobre como a escola poderia preparar os estudantes para atuar num mundo em que a comunicação já não se limitava ao papel e à letra impressa.

Ao longo das décadas seguintes, esse debate foi ampliado e reinterpretado em diferentes contextos. No Brasil, passou a dialogar com políticas educacionais como a BNCC, que reconhece que as práticas de linguagem contemporâneas envolvem gêneros cada vez mais multimodais e multissemióticos. Isso não substituiu o letramento tradicional, mas trouxe para o centro da discussão a necessidade de integrar outras linguagens — imagens, sons, vídeos, hipertextos — ao processo formativo.

Esse alinhamento teórico também se reflete em programas nacionais como o PNLD (Programa Nacional do Livro e do Material Didático). Nos editais mais recentes voltados aos Anos Iniciais, o PNLD 2027, há a exigência de que os materiais contemplem propostas compatíveis com os multiletramentos, incorporando recursos visuais, sonoros e digitais. Para o professor da rede pública, isso significa ter à disposição coleções que, além de apoiar a alfabetização, já trazem caminhos para trabalhar diferentes gêneros e mídias em sala de aula, ampliando o repertório dos estudantes desde o início da trajetória escolar.

Por que trabalhar com gêneros, imagens e vídeos nos Anos Iniciais?

No dia a dia, os alunos já lidam com múltiplos códigos, do ícone do celular à placa de trânsito, da música no fone ao tutorial no YouTube. Ignorar essa realidade em sala de aula significa abrir mão de um repertório que pode potencializar a aprendizagem.

Ao incorporar ensino com mídias e gêneros variados, o professor:

  • Torna o conteúdo mais próximo do universo cultural dos alunos, aumentando o engajamento;
  • Desenvolve diferentes competências cognitivas e expressivas;
  • Cria condições para que as crianças compreendam e produzam mensagens em diversos formatos;
  • Promove equidade, já que todos têm acesso a essas linguagens, independentemente do contexto social.

Entretanto, essa diretriz exige repensar a avaliação, afinal, é preciso medir a produção escrita e considerar também a interpretação de imagens, a criação de vídeos curtos, a leitura de tabelas e outros formatos de expressão.

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Aplicações práticas para sala de aula

Implementar os multiletramentos nos Anos Iniciais não significa abandonar a leitura e a escrita tradicionais, significa enriquecê-las. Algumas estratégias possíveis:

  • Leitura de imagens: analisar ilustrações, fotos ou infográficos, perguntando o que mostram, como se organizam e qual mensagem transmitem.
  • Histórias em quadrinhos: usar tirinhas ou HQs como ponto de partida para produção de textos, dramatizações ou desenhos de continuidade.
  • Vídeos educativos: assistir a um vídeo curto sobre o conteúdo estudado e, depois, produzir coletivamente um resumo visual ou escrito.
  • Produção multimodal: transformar um texto em cartaz, música, poema ilustrado ou peça teatral, estimulando a transposição entre linguagens.
  • Textos do cotidiano: explorar convites, receitas, placas e até postagens fictícias de redes sociais, discutindo layout, linguagem e finalidade.

Quando o professor integra os multiletramentos desde os Anos Iniciais, transforma cada atividade em um convite para que a criança navegue com autonomia e responsabilidade pelo vasto oceano de informações que a cerca. E, nessa travessia, a sala de aula deixa de ser um lugar de respostas prontas para se tornar um espaço de descobertas.

Editora do Brasil S/A
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